sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Devaneios

Se houvesse um dactilografador de pensamentos, um tradutor de emoções, um dicionário de sentimento... então eu escreveria o texto mais belo que alguma vez será escrito, só para partilhar o que sinto neste momento...

Neste momento em que estou sentada a comer a minha baguete preferida no meu refugio preferido, com a minha vista de sonho para o meu rio amado (o Tejo claro!), na minha cidade preferida (serei alguma vez capaz de amar tanto uma cidade como amo Lisboa?)...

Neste momento tudo é inspirador, sereno, tranquilo, doce...
A noite que se faz bonita e cheia de luz, o Tejo que reflecte toda essa luz e lhe acrescenta uma pitada de magia, até a musica que toca no meu mp3 está em consonância com o ambiente...

Como estou em maré de doces devaneios, depois da baguete que me soube a infância, essa infância em que corria pelas ruelas de Lisboa e me perguntava se seria capaz de nadar até ao outro lado do Tejo (felizmente a estupidez nunca chegou a tanto e fiquei-me só pela curiosidade), opto por ir beber um café quente ao Tio Lino, como ternamente lhe chamavamos.
Entro está deserto, sento-me ao balcão ele não me reconhece, embora eu o reconheça perfeitamente, está mais velho, muito mais velho, envelheceu muito neste ultimos 2/3 anos em que cá não vim... Pergunta-me o que quero tomar, peço-lhe um café curto e quente por favor...

Enquanto me tira o café, começa por me dizer que o negócio está mau, que agora os clientes são tão poucos que se contam pelos dedos, mas que em tempos aquele fora um café cheio de vida, estava sempre cheiode miudagem diz-me ele.
Não lhe quis dizer que nesses tempos, também eu fiz parte da miudagem que dava vida ao café, que em tempos corriamos na esperança para o encontrar ainda aberto e bebermos o melhor café de Lisboa, era o que achava na altura e é o que acho ainda hoje, também não lhe quis dizer que fora ali que dei o meu primeiro beijo, ao meu primeiro namorado e que também foi ali que fiz pela primeira vez juras de que seria para sempre, antes de descobrir que até o "para sempre" é efemero...
Não lhe quis dizer nada disso, porque quis reviver esses momentos e uns quanto mais sozinha, como se fossem um tesourinho secreto, uma conquista pessoal que é minha e só minha... Em vez disso disse-lhe : «Continua a ter o melhor café de Lisboa Tio Lino!» paguei, sorri perante aquelas lembramças uma ultima vez e vim-me embora com a alma preenchida por uma nostalgica felicidade!

Ainda pensei continuar nessa doce maré de devaneios e ir ao NooBai, ainda ponderei nessa hipotese umas quantas vezes admito, mas preferi resistir à vontade e não o fazer, preferi não retornar (embora por apenas alguns minutos) a um mundo a que optei por me afastar...
Não porque achasse que seria mal recebida, tenho a certeza de que seria extremamente bem recebida e que a minha antiga equipa de trabalho lá está toda a fazer uma pausa ao mesmo tempo que pondera 50 mil hipotes de redução de gastos etc, etc... Tal e qual como faziamos no tempo em que eu pertencia a essa equipa... E tenho a certeza de que me receberiam da melhor forma... Mas também sei que provavelmente também lá estaria o Dr Menezes e a nossa conversa seria curta, directa e ferida... Ele puxaria a conversa de sempre, tal como fez no jantar de fim de ano, a que eu acedi ir mas não devia ter ido, e seria mais ou menos assim
«Ele-Então já pensaste na minha proposta para reintegrares a equipa?
Eu- Ah! Pensei que tinha recusado na altura, mas se fiquei de pensar dê-me só um segundo.... Bem já pensei e decidi que não vou aceitar.
Ele- Pensa bem, olha que ela não fica na mesa para sempre, todos os dias me aparecem jovens cheios d sonho, capacidades e que ambicionam integrar a equipa...
Eu-Só tenho pena deles, vão acabar por sair de lá com os sonhos desfeitos, tal como aconteceu comigo...~
Ele- Todos os dias me aparecem esses jovens, cheios de sonhos, de capacidades, de garra, ambiciosos... mas falta-lhes sempre algo que tu tiveste desde o inicio... A ousadia para me enfrentar, a coragem pra me dizer que não...
Eu- (Silêncio)
Ele- O teu futuro será brilhante se reintegrares a equipa, sabes disso!
Eu- Será tão brilhante como foi durante os anos em que a integrei, destruir-me-à a pouca crença que tenho que ainda existem seres humanos, não só maquinas a pensar em dinheiro, far-me-á ver novamente que o plágio é uma coisa muito comum e que vendo o que crio a alguem que nunca o conseguirá implementar por que não tem capacidade para o criar e como tal assina como suas coisas feitas por outros, que acabam por ter de as implementar também... E no final depois de toda esta desilusão e frustração, nem sequer o posso colocar no curriculum...
Ele- És capas de me dizer que não sentes falta da adrenalina de um projecto novo, que não sentes falta de saber que os outros te respeitam e fazem exactamente o que lhes dizem porque te admiram? Não tens saudades de gerir uma equipa?
Eu- Nop, não sinto saudades de nada disso e ainda menos de ter de lidar com pessoas insolentes e chefes prepotentes que têm a mania que o dinheiro compra toda a gente...
Ele- claro estava-me a esquecer de que trabalhar na cantina mariachi é muito melhor, eleva o nivel do teu curriculum, e no fim do mês deve-te elevar muito saldo bancario, até porque lá ganhas em 2 meses o que ganhavas aqui num não é? Toma juizo e escolhe bem e rapido, já não és tão jovem como eras e quanto mais idade se tem menos espantamos as pessoas com as nossas capacidades, porque depois passa a fazer parte percebes, vais-te tornar banal..
Eu- Who cares.. Vou-me embora que a conversa esta-se a tornar tão desagradável que ainda perco o apetite»

Foi para não ter de passar por conversas deste genero, foi para não reviver os bons momentos que provocam saudades e me tentam a querer repeti-los, foi para não me lembrar daquela sensação de extase, que costumava sentir durante a construção de um projecto, quando me encontrava entre o limiar da genialidade e o limiar da loucura, oi para não sentir falta dos momentos em que acreditava q podia mudar o mundo, nem ue fosse por um segundo... Foi para não me lembrar do prazer que me dava...
Foi para não me lembrar dos momentos maus também, foi para não me lembrar daquelas frases que me doiam no pensar e no senti (a tua qualidade mede-se pela quantidade dos teus enimigos) (á uma certa loucura presente em quem se arrisca pela mudança) ...

Foi por isto e por muito mais que optei por não ir... Mas foi principalmente para não me deixar invadir pela saudade, pelo gosto, pela vontade, para não me deixar invadir pela duvida...

Optei por seguir em frente, guardar o mundo antigo no mesmo canto esdpecial que sempre ocupou na minha mente e no meu coração, e continuar no mundo novo, cheio de esperança, afectos e normalidade...

Terminei a viagem, psicologicamente exausta, mas com o coração preenchido e com a certeza que também estas novas etapas darão mais tarde azo a doces devaneios, que me enaltecem o espirito e aquecem o coração...

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