Ontem fiquei a pensar em ti...

Ontem fiquei a pensar em ti... Nas relações que não têm de ser conjugais e na falta que elas nos fazem... ... Não sei porque fiquei a pensar em ti e não sei porque isso me deixou a sentir só.., E nos 95% de vezes que ponho a minha melhor capa e nada me afeta... Nada em ti me deveria afetar, tu não me deverias afetar e eu não devia estar a escrever isto... Mas há algo em ti que me puxa... De repente parece que me conheces sem conheceres e desafias... Gostas de me de desafiar e és brutalmente honesta... E como ontem fiquei a pensar nisso e como nestes dias ando sensível, fiquei a sentir-me só... ... Só porque sei que me fecho e sou superficial e não deixo que se cheguem a mim, porque não posso ficar vulnerável, porque tenho medo... Toda a gente acha que sou destemida, mas não sou, tenho tantas vezes tanto medo... Apenas a minha coragem é maior do que os medos quando é algo que me obriga a agir... É este medo que faz sentir só... Medo do peso que carrego...medo que esse peso me faça perder tudo o que a tanto custo vou conquistando... Então meto o meu melhor ar de corajosa e guerreira e faço o que é suposto, faço o suposto e faço por fazer o melhor possível, sem mostrar Fragilidades ou vulnerabilidades que possam puxar a mais perguntas... ... Desse lado da minha vida, onde tu também estás, a minha vida é só isto, não é perfeita mas é perfeitamente boa e sempre foi assim, sem nenhum registo de maior importância ao nível do peso que carregamos por aí... Mas quando me contas algo tão pessoal e tão significativo eu não consigo de pensar o quão é injusto que eu não seja capaz de retribuir... E isso prendeu-me, é o seres inesperada que me prende,é o teu lado frágil que me fascina... e isso torna-me vulnerável porque depois sinto a necessidade de te defender... De te proteger... Ainda que sejas mais do que capaz de travar as tuas próprias batalhas, como também o foste ontem.. e foi por isso que fui embora ontem, porque me irritou tanto a forma como te falaram e só me lembrava que me tinhas dito que te apetecia tanto chorar, , não que eu tenha sido capaz de te dizer o que realmente pensei (chega aqui deixar-me abraçar-te vai tudo ficar bem), mas quando ao fim de alguma small talk em que apenas te ouvi e não te julguei no mais íntimo ou mais superficial que foste dizendo, falamos de coisas que não têm peso, nem muito interesse, quando ao fim dessa small talk disseste que já não tinhas vontade de chorar fiquei contente de alguma forma a minha incompetência emocional tinha aliviado o teu peso... E depois vejo-te a levar com aquilo num dia daqueles, em que já te apetecia chotar... E eu sem poder fazer nada... Então fui embora... É fiquei a pensar em ti, hoje olhei sempre para ver se estavas, se chegavas... Queria saber se estavas bem (ainda que provavelmente não tivesse a coragem de te perguntar diretamente)... Saber se te apetecia chorar e se sim fumar um cigarro e distrair-te novamente, a minha tolice ao menos distrai as pessoas... E pensei que o que te deveria ter dito ontem é que a mim também me apetecia chorar, que também sou excessivamente emocional e que sei que ser emocional às vezes é uma merda... ... Porque as coisas se entranham na alma e no corpo e minam-nos... Um pouquinho de cada vez... Não o disse e duvido que algum dia o direi, porque como dizes sou bruta, mas só sou bruta para não me desfazer... E depois passou, pensei não posso ser tão sensível... Fui comprar um livro, so para me lembrar novamente de ti... Então usei a minha cura de sempre... A minha única coragem nas coisas que não sou capaz de dizer e escrevi-te, algo que nunca vais ler e se algum dia nunca vais saber que foi escrito para ti, ou que foi escrito por mim... Mas para mim basta para aliviar um pouco desde peso... E se por algum mero acaso um dia leres isto, quero dizer-te que poderíamos ser amigas, consigo perceber-te e não te julgar, porque no fundo eu sou um pouco como tu... Provavelmente nunca leras isto e provavelmente nunca nos tornaremos amigas, as nossas vidas continuarão a cruzar-se-ao em determinados momentos e em alguns momentos uma de nós estará mais frágil e a outra dará aquela small talk como tem acontecido até agora e partilha uma ou outra coisa e rapidamente volta a ser como se nunca tivesse acontecido e será apenas isso... vais continuar a desafiar-me e eu vou pensar em ti de vez em quando... Vou pensar que poderíamos ser amigas... Vou chegar e olhar para ver se estás e depois vai passar, vou esquecer e seguir em frente, ou se mexer mesmo comigo venho aqui escrever-te... Mas por hoje, só por hoje, quero dizer-te que estás naquela percentagem mínima de pessoas que me faz desejar ter coragem de me ligar aos outros e me faz lembrar que apesar da minha vida aparentemente perfeita, me sinto só...