domingo, 30 de dezembro de 2007

Gosto muito de ti!


Às vezes tenho medo de não demonstrar às pessoas o quanto são importantes para mim…

Tantas vezes estou tão abstraída nas minhas coisas que me esqueço das coisas mais simples mas tão importantes quando se gosta de alguém. São coisas tão simples como o recebermos a outra pessoa com um sorriso e tentarmos perceber como foi o seu dia.

Mas não estou só a falar dessas pequenas atenções, estou a falar de nós acharmos que as pessoas sabem que gostamos delas e por isso esquecermo-nos de dizer a alguém, sem que para isso tenha de existir um motivo especial, simplesmente : Gosto muito de ti!

Não o fazemos por acharmos que é chato, “lamechas”, ou porque nos sentimos vulneráveis e desconfortáveis quando o fazemos…

A verdade é que esse facto nem sempre está implícito e é claro a outra pessoa, que por vezes, não se sabe amada, afasta-se…

A mim ainda à pouco tempo me aconteceu questionar a alguém o porquê do seu subito distanciamento, a resposta foi fria e dilacerou a minha alma, foi algo como cansei-me de gostar e de estar com pessoas que nem sequer gostam de mim…

Eu sei e sabia que era tarde para pedir desculpa, no entanto não era verdade eu gostava e gosto muito da pessoa panas achava que era um facto incontestável e por vezes me esqueci de lhe dar um abraço forte, dizer-lhe que gosto dela e demonstrar-lhe o quão importante ela é para mim, e no fim fiquei inconsolável por ter perdido alguem que é tão importante para mim apenas porque puro egoísmo me esqueci de que também ela precisava de sentir o quanto significava para mim…

Mas é esse medo que hoje está a mexer comigo, esse medo de continuar a perder as pessoas que amo porque não sei ou não sou capaz de lhes mostrar o quanto as amo…

Mas também eu por vezes não me sinto amada, tento pensar nas atitudes que têm comigo e tento pensar que o gostar não vem das palavras vãs que se possa dizer mas sim das atitudes que reafirmam esse mesmo gostar, mas às vezes não chega e também eu me sinto um pouco à margem desse amor, mas é nesses momentos que me lembro dos bons momentos que passei com essas pessoas, que me lembro dos sorrisos que tantas vezes aqueceram o meu coração, nas coisas que já me disseram e em como já me fizeram sentir amada, e isso apazigua um pouquinho a dor…

No entanto por vezes sinto falta daquele abraço forte de que falava à pouco, sinto falta disso, que me abracem forte e sussurrem ao ouvido aquelas palavrinhas mágicas: Gosto muito de ti!

Sinto falta disso principalmente nos dias maus, em que parece que a chuva tapa todos os raiozinhos de sol que poderiam aquecer o meu coração…

É também nesses dias que sinto falta de um colo, onde chorar baixinho, porque chorar por vezes alivia o coração e lava a alma!

E é também nesses dias em que até chego a duvidar que o céu seja azul, que penso que não sou amada, mas no fundo sou, sei-o com toda a certeza!

Mas também é nessas alturas que me apercebo que por vezes os outros se sentem também assim, então pego no telemóvel e ligo a alguem apenas para dizer: Gosto muito de ti!

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

E a Indiferença passou...

Tenho de o admitir, deste-me a volta, daquela forma subtil com que só tu sabes dar---
A indiferença passou, eu não queria lutei comigo propria, já não queria sentir...
Aquilo tinha provocado danos colossais na confiança, tinho medo em acreditar, medo de me voltar a magoar...
Por fim não consegui resistir mais, o meu coração insistia em perdoar...
Outros diziam que estava a ser ingenua, que se ia voltar a repetir, pra não acreditar...
Mas mais uma vez o meu coração não ouviu ninguém, sem pedir nada em troca entregou-se, afinal isto é amar..!

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Indiferença..!

É estranho a esta altura do campeonato falar contigo e não sentir nada além da indiferença...

Pela 1ª vez desde que te conheço, não senti nada ao ouvir as tuas palavras, antes considerava-as sábias e sentia sempre crescer em mim uma tremenda admiração enquanto falavas...
Apercebi-me logo que iniciaste a conversa, que estranhamente esta não estava a surtir qualquer efeito em mim, já não provocava admiração, vontade de ser como tu, vontade de mudar o mundo, não provocava nada, senti uma estranha apatia e indiferença tomarem conta de mim à medida que falavas...
Onde em tempos houve admiração, respeito, carinho, amor, consideração e mais tarde a mágoa, a desilusão, a tristeza, a dor... já não existe nada..!
Como se os ultimos acontecimentos tivessem provocado em mim um "tsunami", que ao recolher de volta ao mar, levou todos os sentimentos por ti que existiam na terra do meu ser..!
Estranhamente a minha voz sempre coberta de entusiasmo, aparecia vazia de emoções, apenas um som, algo sem conteudo..!
Cada vez que me questionaste ou usaste o silêncio como forma de me induzir a intervir, eu respondi, mas quase mecanicamente, como se estivesse programada para o fazer e não como se o quisesse realmente fazer..!
Foste falando e a meio da conversa senti aquela sensação estranha e estupida de que estava a assistir a um programa de telivisão em que os intervenientes eram deveras chatos e vazios, e apetecia.me pegar no comando para fazer zapping na esperança de encontrar algum programa intelectualmente estimulante... já tinha sentido essa sensação várias vezes antes, mas nunca o tinha sentido nas minhas conversas contigo, sentia-o quando falava com alguém extremamente fútil, principalmente..!
Escrevo e tento rever todos os momentos em que estiveste presente, todas as conversas que tivemos, toda a tranquilidade e protecção que me costumas transmitir, faço-o agora, e fi-lo também no decorrer da nossa conversa, tentei inclusive recordar todos os centesimos de segundo do sismo de grau 12 na escala de Mercalli, foi esse sismo , provocado por ti, que teve consequências catastroficas no nosso relacionamento, foi esse o sismo que provocou o "tsunami" que varreu qualquer sentimento, bom ou mau, que eu continha por ti, foi esse o sismo que provocou tudo e foi esse o "tsunami" que fez com que em relação a ti só a indiferença fosse possivel..! Fi-lo na esperança vã de encontrar um sentimento, um pequeno elo, fosse ele qual fosse, que ainda me ligasse a ti, tentei reacender o carinho, a admiração, até a magoa e a desilusão, fiz e faço tudo isso porque o meu cerebro, a minha mente, o meu lado racional acha que tudo isso não pode ter desaparecido assim, eu ainda preciso de um ponto de referência e esse ponto eras já há muito tempo tu..!
A verdade é que à medida que escrevo as palavras surgem-me na cabeça, mas surgem ocas, o meu lado emocional não guarda qualquer registo, hoje, em relação a ti.
Mas no entanto acho importante escrever sobre isso, e faço-o, mas faço-o como faço alguns artigos, em que ao me ser pedido que escreva por um tema que nem sequer acho minimamente interessante e escrevo de uma forma vazia de emoções, mas cheia de pensamentos lógicos, escrevo de uma forma racional, por instantes torno-me novamente uma máquina, vazia, mecanica..!
As palavras surgem e desvanessem mas consigo não trazem nada, são apenas ocas, vazias... são apenas palavras formadas por letras...
Tenho ainda a esperança vã de que não me sejas mesmo indiferente, de que isto seja um mecanismo de defesa, uma forma de reagir à tristeza ou à desilusão, penso que se calhar o desconheço em mim, mas que à medida que vou fazendo uma optimá evolução, isso traz alguns dissabores... tento pensar que talvez seja só uma fase, e que como todas as fases vai passar...
... para mim é triste pensar que me estou a mecanizar, porque ao afastar-me dos outros estou simultanemante a afastar-me de mim, a perder aquela harmonia que tanto lutei para conquistar..!
Mas sobretudo é trsite ver que alguém de quem eu tanto gostava e que surtia em mim quase o mesmo efeito que a lua surte nas marés, hoje, devido a um sismo seguido de tsunami, que podia ter sido evitado, já nada provoca em mim...
... e vou-me tornando apatica, a inercia vai tomando conta de mim, e subitamente tudo me vai sendo indiferente, tudo se resume a um nada, a uma estupida INDIFERENÇA!!!

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

A verdade...



Ao ler um post no blog "Coisas da Vida", intitulado: "Verdade".

Deparei-me por uma vontade imensão de reflectir sobre o assunto e escrever um algo sobre, isso, o post fazia uma serie de perguntas, sobre as quias estive a reflectir e a conclusão a que cheguei foi a seguinte:



Bem a verdade é na realidade uma "dicotomia", que nos deixa confusos e provoca sentimentos ambiguos no sentido em que por vezes as coisas tanto nos parecem verdade e mentira.

Mas isto acontece pelo facto de a verdade não ser exacta, absoluta ou definitiva, pelo contrário, é relativa, subjectiva e mutável. De forma a que aquilo que eu tenho como uma absoluta verdade outra pessoa pode ter com uma perfeita mentira, e por vezes nenhuma das partes tem toda a razão, pois por vezes podem existir várias verdades sobre a mesmissima coisa, como por exemplo, podes afirmar com toda a certeza acreditando piamente que é verdade que o céu é azul, e tens razão, é verdade, o céu é azul. Mas não é por vezes também cinzento, preto, avermelhado, alaranjado e por vezes uma salganhada de cores? Ou estou a mentir se te disser que o céu é cinzento?! Não, ambos estamos a dizer a verdade sobre a mesma coisa, no entanto a verdade que cada um de nós afirma é completamente diferente da do outro! E isto não se passa só com a cor do céu, mas com quase tudo o resto na vida e no mundo.

Mas isto não significa que não existam mentiras, pois existem, no entanto tem uma grande diferença da mentira, isto vem de uma crença pura de que é verdade, enquanto a mentira é premeditada e quem a diz tem total consciência do que está a fazer...

Se a mentira é punivel, sim sem duvida, quando premeditada concordo absolutamente com a sua punição...

No entanto, não considero que seja normal mentir, omitir ou trair, pois quando alguem faz qualquer uma dessas coisas não está a respeitar o outro e está a roubar-lhe o direito à verdade... Támbem não acredito que seja possivel uma relação seja ela do tipo que for onde isto aconteça... Talvez pelo facto de que sou apologista da sinceridade e da verdade acima de tudo!!!

Se nós podemos estar certos e o mundo inteiro errado, sinceramente penso que sim, e dou o exemplo de Galileu, quando afirmou que a terra era redonda, todos se riram dele e o julgaram louco, mas hoje em dia não aprendemos na escola que a terra é redonda?! Então ele estava correcto e o resto do "mundo", os que o julgaram loucos estavam errados... no entanto a terra consoante a posição do sol parece-nos adoptar outras formas, não deixando no entanto de ser redonda!..

Este é um bom exemplo em como devemos ter cuidado quando tendemos a julgar os outros, Por exemplo Galileu foi punido por afirmar a verdade...

Ainda a respeito das relações, infelizmente não conheço nenhuma, onde impere apenas a verdade absoluta, o que torna a minha busca por uma relação assim um pouco desmotivante...
... no entanto acredito que poderá existir, tem de existir, para tudo fazer sentido tem de exister uma possibilidade de as relações serem dominadas pela verdade absoluta, apesar de isso parecer dogmatico..!
As diferenças em cada um de nós fzem com que a busca de uma verdade absoluta, pareça domatica e irresoluvel, no entanto (talvez por ingenuidade), acredito que é possivel...
Acho que essa procura pela verdade não faz de mim louca, apesar de outros me querem fazer crer que sou por vezes ao destruirem e tornar falso tudo aquilo em que acredito com todas as minhas forças, nem a mim, nem a ninguém, pelo contrario, as minhas duvidas só acabam mais tarde por fortalecer as minhas certezas...
...e acreditem que o que tou para aqui a dizer não são só teorias, eu meto em prática o que digo, pois é isso que me ajuda a manter a sanidade mental, a chegar a mim e acriar um sentido para a vida, para a minha vida...
Não sei se concordam comigo ou não mas estou aberta a novas opiniões, a novas "verdades"...
Um Abraço!




terça-feira, 20 de novembro de 2007

Joana Castanheira

Joana, minha irmã...
quero que saibas do fundo do coração, que com poema ou sem poema, amo-te imensamente...
Talvez não te ame da forma como tu gostarias que te amasse (e graças a deus senão teria de ceder a todos s teus caprichos... hehehehe) no entanto amo-te com todas as minhas forças e da melhor forma que sei...
Sei que me pediste um poema, mas a inspiração não é a melhor, portanto a eta altura do campeonato foi o melhor que se consegui arranjar...
Lembra-te sempre o gostar não vem das palavras vãs, mas sim das acções que reafirmam essas mesmas palavras!!!
Aquele Abraço!!!

domingo, 18 de novembro de 2007

"I know you think that we cannot understand..."


Passei o dia inteiro com o papel e a caneta na mão, mas nada flui, não sei porquê mas não consegui dar forma ao que surgia no meu pensamento, talvez porque surgia tudo á velocidade da luz, a unica coisa que permanece é esta frase da letra de "are you ready 4us", uma musica dos tragic comic: "I know you think that we cannot understand...", talvez porque na verdade seja isso que tu pensas, que nós não te podemos entender...
No entanto penso que te poderiamos entender se nos desses essa hipotese, se confiares em nós...

Também eu já me senti perdida, no entanto foi esse sentimento que me aproximou do que eu mais desejava encontrar: o meu verdadeiro eu e com ele o sentido para a vida...

È uma busca inquieta e tortuosa, e pensamos muitas vezes que não vale a pena... No entanto devemos perceber, que pelo contrário vale muito a pena! E todos esses dissabores que sentimos enquanto percorremos o caminho só servem para nos tornar mais fortes..!

Eu sei que pensas que não te posso entender, mas posso tentar, não prometo que te direi que tens razão no entanto respeitarei sempre a tua opinião...

Todos temos de aprender a ser sempre um pouquinho mais humildes, não podemos sempre pensar que somos os mais: inteligentes, sofredores, bonitos, problemáticos, simpáticos, alegres, tristes....

Pelo contrário devemos pensar sempre que somos, nem que somos os mais, nem que somos os menos, simplesmente que somos, ao tomarmos consciência do pensamos e sentimos, dos nossos defeitos e virtudes, das vezes que erramos e acertamos, de quem gostariamos de ser e de quem não gostariamos de ser... vamos-nos sempre aproximando um pouquinho mais de nós proprios, daquilo que realmente somos...

Eu sei que pensas que não te posso enternder, mas será que te entendes a ti própria? Raramente os outros nos conseguem entender se nem mesmo nós nos conseguimos entender, e quem diz entender diz também aceitar, compreender, respeitar, amar... Nós sem nos apercebemos criamos uma especie de "aura" à nossa volta, que transmite exactamente o que sentimos aos outros, se formos pessoas tranquilas os outros sentirão tranquilidade junto de nós, se nos sentirmos tristes os outros sentirão a nossa tristeza quando estiverem junto de nós, se formos alegres, os outros sentirão a alegria que brota de nós e sentir-se-ão alegres por estarem junto de nós, se nos aceitarmos os outros aceitar-nos-ão tambem, atenção quando digo aceitar não digo resignar, só quando aceitamos que temos um certo defeito ou virtude é que pudemos, mudar e aprimorar...

"I know you think that i cannot understand...", foi com esta musica a ecoar nos meus ouvidos que acordei, foi também com neste turbilhão de pensamentos e nesta confusão de sentimentos que tu provocaste em mim, que a tua distancia provocou em mim, e é com isto mesmo que adormecei, com isto e com o desejo de que percebas que para nos aproximarmos de nós , não precisamos de nos afastar dos outros...

Juízo e dá uma chance aos outros está bem Filipa?!

O poder do olhar

Olho-me ao espelho à procura daquele olhar triste que os outros projectam em mim e no qual não me consigo encontrar... e às tantas por meio de lagrimas e solidões lembro-me das palavras que tantas vezes oiço em conversas profundas ou profundamente banais : o poder do olhar. Mas que poder de olhar é esse?Será aquele que passamos a vida na ansia de encontrar, aquele olhar que nos transmite protecção e doçura, que acabara defnitivamente com a solidão que se abate sobre mim, que é como uma corda que tem o poder de me resgatar do abismo, das trevas e da tristeza em que mergulhei, aquele olhar que é tão simples mas simultaneamente tão belo, que tem o poder de iluminar até as mais profundas trevas que há muito invadiram o meu coração! Aquele olhar que me ensina o que é o amor...Ou será aquele olhar com que encaro a vida, tantas vezes triste e injusta, cheia de mágoas e desilusões... e, outras (em numero menor mas em qualidade maior) tão e cheia de sonhos! Aquele olhar com que procuro os meus sonhos, lusões e, finalmente me apercebo que não concretize nem um terço daquilo que sonhei, na maiora das vezes nem sequer tentei com medo de não ser capaz de os consegur atingir, aquele olhar com que desisto de ser feliz porque antes da felicidade vem sempre uma grande e amarga dor e , então conformo-me a uma estupida indiferença para não sentir...Aquele olhar com que me fecho sobre mim própria com medo de deixar os outros se aproximarem, onde uso o meu melhor repelente na tentatva de repelir qualquer alma cheia de carinho que goste ou se preocupe comigo, pois senão o fizer apego-me e fico vulneravel às hipoteticas magoas que me possam provocar...Aquele olhar que se transforma à medida que rio e choro... aquele olhar tão meu, que tem o poder de mergulhar quem ousa enfrentá-lo na mais profunda tristeza, aquele olhar vazio de alegrias mas cheio de mágoas e solidão...Aquele olhar que tem o poder de vasculhar a minha alma de tal maneira que quando quero dizer que pare, pareço sofucar nas minhas próprias palavras...Aquele olhar tão terno que me envolve e prende na sua tamanha ternura, que me faz querer nunca mais sair dessa ternura tão protectora...Há tantas formas de olhar , cada uma com o seu poder, olhares capazes de transformar o mundo ou apenas de arrepiar o coração... olhares tão cheios ou tão vazios e, no entanto, existem tantos outros, como o meu que ainda não encontraram o seu poder... que se escondem, que não têm brilho... Contudo têm anda um outro poder, o poder de reflectir o que lhes vai na alma...

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Quando eu nasci

Quando eu nasci,
Ficou tudo como estava.

Nem homens cortaram as veias,
Nem o Sol escureceu,
Nem houve Estrelas a mais …
Somente,
Esquecida das dores,
A minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,
Não houve nada de novo
Senão eu.

As nuvens não se espantaram,
Não enlouqueceu ninguém …
P´ra que o dia fosse enorme,
Bastava
Toda a ternura que olhava
Nos olhos de minha Mãe …

Sebastiao da Gama

Quase

Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minhalma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo ... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...

Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...

Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Listas de som avançam para mim a fustigar-me
Em luz.
Todo a vibrar, quero fugir... Onde acoitar-me?...
Os braços duma cruz
Anseiam-se-me, e eu fujo também ao luar...

Mário de Sá-Carneiro

Paraiso!

Deixa ficar comigo a madrugada,
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.

Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!

Depois, podes partir. Só te aconselho
que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...

Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.

David Mourao-Ferreira

Original é o poeta

Original é o poeta
que se origina a si mesmo que numa sílaba é seta
noutro pasmo ou cataclismo
o que se atira ao poema
como se fosse um abismo
e faz um filho ás palavras
na cama do romantismo.
Original é o poeta
capaz de escrever um sismo.

Original é o poeta
de origem clara e comum
que sendo de toda a parte
não é de lugar algum.
O que gera a própria arte
na força de ser só um
por todos a quem a sorte faz
devorar um jejum.
Original é o poeta
que de todos for só um.

Original é o poeta
expulso do paraíso
por saber compreender
o que é o choro e o riso;
aquele que desce á rua
bebe copos quebra nozes
e ferra em quem tem juízo
versos brancos e ferozes.
Original é o poeta
que é gato de sete vozes.

Original é o poeta
que chegar ao despudor
de escrever todos os dias
como se fizesse amor.
Esse que despe a poesia
como se fosse uma mulher
e nela emprenha a alegria
de ser um homem qualquer.

Ary dos Santos

Segue o teu destino

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.

Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te.
A resposta
Está além dos deuses.

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.

(Ricardo Reis)

Fernando Pessoa

As palavras

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras, orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade

Do sentimento trágico da vida

Não há revolta no homem
que se revolta calçado.
O que nele se revolta
é apenas um bocado
que dentro fica agarrado
à tábua da teoria.

Aquilo que nele mente
e parte em filosofia
é porventura a semente
do fruto que nele nasce
e a sede não lhe alivia.

Revolta é ter-se nascido
sem descobrir o sentido
do que nos há-de matar.

Rebeldia é o que põe
na nossa mão um punhal
para vibrar naquela morte
que nos mata devagar.

E só depois de informado
só depois de esclarecido
rebelde nu e deitado
ironia de saber
o que só então se sabe
e não se pode contar.

Natália Correia

Eu...

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida ...

Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!..
.
Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!

Florbela Espanca

A meu Favor

A meu favor
Tenho o verde secreto dos teus olhos
Algumas palavras de ódio
Algumas palavras de amor
O tapete que vai partir para o infinito
Esta noite ou uma noite qualquer

A meu favor
As paredes que insultam devagar
Certo refúgio acima do murmúrio
Que da vida corrente teime em vir
O barco escondido pela folhagem
O jardim onde a aventura recomeça.

Alexandre O'neil

Porque

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não

Sophia de Mello Bryener Andersen